NOTA BIOGRÁFICA

Manuel Daniel

Manuel Daniel - Fotografia de António Luís Pedro

Fotografia de António Luís Pedro


Manuel Daniel (Manuel Joaquim Pires Daniel)

Nasceu na cidade de Meda em 18 de Novembro de 1934.

Frequentou na Meda a escola primária e, após esta, com 11 anos, começou a trabalhar na Conservatória dos Registos Civil e Predial da Meda.

Com 19 anos fez, no Liceu Afonso de Albuquerque, da Guarda, os exames do antigo 2º ano dos liceus.

Em 1955 foi proposto a Tesoureiro da Fazenda Pública da Meda. Nos anos de 1956 e 1957 apresentou-se com igual sucesso a exame para obter o antigo 5º ano dos liceus (secções de letras e ciências), no Liceu D. João III, em Coimbra. Com estas habilitações concorreu para aspirante de finanças e, em 1959, foi colocado na Repartição de Pombal, onde permaneceu dois anos, após o que foi transferido, a pedido, para a Repartição de Finanças de S. João da Pesqueira. Estando aí três anos, durante esse tempo fez concursos para chefe de repartição de finanças e para tesoureiro da Fazenda Pública, obtendo aprovação. Optou pelas tesourarias e foi colocado em Reguengos de Monsaraz, distrito de Évora, onde se tardou cerca de cinco anos. Desejando aproximar-se da sua terra natal, de novo foi para S. João da Pesqueira, mas desta vez como Tesoureiro da Fazenda Pública, ali se encontrando até 1971, ano em que requereu transferência para Vila Nova de Foz Côa, onde fixou residência.

Integrou a direcção dos Bombeiros Voluntários da Meda e foi, por mais de 20 anos, presidente da Assembleia Geral dos Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Foz Côa. Chefiou durante mais de 12 anos (1972 a 1985) o Agrupamento (CNE) de Vila Nova de Foz Côa, como Chefe de Agrupamento ou Chefe-Adjunto.

Ainda em Vila Nova de Foz Côa, presidiu durante 12 anos à Assembleia Municipal e, durante 23, foi provedor da Santa Casa da Misericórdia.

Experimentado autodidacta, a partir de 1972 e em 1973 foi-se apresentando a exame nas disciplinas do antigo 7º ano dos liceus, nos Liceus de Lamego e da Guarda. Tendo-se candidatado à Universidade de Coimbra, conseguiu matricular-se na Faculdade de Direito. Veio aí a concluir, como aluno voluntário do curso de 1973-78, a licenciatura em Direito, na opção de Ciências Jurídico-Políticas, em 16 de Junho de 1978.

Em 1986, havendo concursos de promoção na sua carreira profissional, apresentou-se simultaneamente às provas para tesoureiro de 2ª e de 1ª classe, facto inédito naqueles serviços, tendo obtido as mais altas classificações. Em consequência, veio a ser colocado onde pretendia, na Tesouraria da Fazenda Pública da Guarda, aí desempenhando também funções de Tesoureiro da Assembleia Distrital.

A Direcção-Geral do Tesouro, do Ministério das Finanças, num realinhamento do seu organograma, convidou-o para integrar uma equipa que ia dirigir os serviços das Tesourarias da Fazenda Pública. Estava em curso a Reforma Fiscal, com a introdução dos Impostos IRS, IRC, IVA e Autárquica. Foi então nomeado para chefiar os serviços técnicos e financeiros do sector das tesourarias, o que fez, durante o tempo da comissão que aceitara, por três anos, com a sua habitual dedicação. Nesse período as Tesourarias adquiriram uma excelente imagem a nível nacional, de prestígio e de eficácia, tomando por exemplo a seu cuidado o lançamento do "Tesouro Familiar" e participando nas primeiras privatizações de empresas. Fez parte do grupo de trabalho que, a partir dos serviços do Tesouro, preparou a adaptação e a introdução do POC – Plano Oficial de Contabilidade – na Contabilidade do Estado.

Aposentou-se no termo da comissão de serviço no Ministério das Finanças, sendo a sua saída assinalada com um extenso louvor publicado no "Diário da República", onde lhe foi reconhecido o seu mérito profissional, enquanto os funcionários das tesourarias do País lhe manifestaram, num almoço, no "Hotel Palace do Buçaco", a sua gratidão pela sua solicitude e amizade.

Não querendo assumir o papel de aposentado, candidatou-se ao estágio da Ordem dos Advogados, que fez, em 1991 e 1992, no Porto e na comarca de Foz Côa, tendo nesta vindo a exercer essa profissão liberal.

A par de tudo isto, desenvolveu uma considerável atividade literária. Dir-se-á resumidamente que já escrevia quadras populares para "O Comércio do Porto" com 12 anos, e que a partir dos 13 anos o seu nome já era assíduo na "Gazeta do Sul", do Montijo, onde assinava diversa colaboração em prosa e verso.

Aos 15 anos, depois de ter visto na Meda, dois espectáculos de teatro ali levados a efeito pelo antigo SNI, começou a escrever alguns autos em verso.

Após os 20 anos, a poesia e o teatro ocupavam-lhe os momentos que tivesse livres.

Na poesia, ia atingindo uma colecção de cerca de 400 poemas, parte deles desde logo integrados em livros privados a que deu os nomes das quatro estações do ano ou, de outro modo, algumas pequenas colecções dedicadas à sua futura mulher, Maria Alice Daniel.

Vários daqueles poemas foram publicados em diversos jornais nacionais, bem como em jornais brasileiros.

Com os jovens da JAC, na Meda, levou à cena vários dos trabalhos que ia escrevendo, entre eles, vários poemas, monólogos e canções. Algumas das suas peças não chegavam a ser representadas, porque a produção literária não esperava pelas encenações. Ali se fizeram, por exemplo, "Compadres, Comadres e Companhia, Lda"; "Boa vai ela"; "O Quarto Mandamento", em dois actos; "O Filho dos Brasis", em dois actos; "O Auto de Natal", "O Espantalho" e "A História da Carochinha", estas três últimas em verso. Entre as não representadas estavam "O Auto do Relojoeiro", "O Auto do Jornaleiro", "O Auto da Meda" e "O Auto das Quatro Vilas", pequenas peças em verso, e "O Rei David", drama bíblico em cinco quadros, cujo texto é uma espécie de mosaico com citações das Escrituras.

A peça "O Quarto Mandamento", em dois actos, foi ainda representada pelas Forças Armadas, em Nampula, Moçambique; "O Espantalho" teve apenas uma representação, por imposição do Delegado da Inspecção de Espectáculos da Meda que, após ter visto a estreia, julgou ver naquele trabalho alguma alusão de carácter político; e "O Rei David" foi escrito durante os dias que medearam as provas escritas e as orais dos exames da secção de Letras do 5º ano dos Liceus (1956).

As primeiras publicações em forma de livro vieram depois. Em poesia, "Caminhada Imperfeita", com capas e desenhos do malogrado Tito Roboredo, viu a luz do dia, numa edição do quinzenário "Luz da Beira", da Meda, na passagem do ano de 1960 para 61; "Lourdes", esboço dramático em três actos, e "O Auto da Juventude", em um acto e em verso, foram editados pela Acção Católica, sendo os respectivos opúsculos distribuídos, para representação, por muitas paróquias do País. Mais tarde, em 1966, viu representada num jardim de Reguengos de Monsaraz a peça "Parque Infantil", em três actos, a que se seguiu "A Múmia", num só acto, especialmente escrita para o Seminário Maior de Évora, que, na solenidade da sua festa anual, a fez representar no Teatro Garcia de Rezende, numa primorosa encenação de Joaquim Carrageta. Já em 1970, por solicitação do Secretariado Arquidioesano de Catequese de Évora, escreveu um Jogo Cénico, em prosa e verso, e em três actos, sobre as aparições da Fátima, que intitulou "Eram Meninos Como Nós", e cujo texto foi publicado, num opúsculo, e simultaneamente representado nos jardins do Paço Ducal de Vila Viçosa por grupos de crianças de Évora, Montemor-o-Novo e Elvas.

Dessa época, mas nunca representada, destaca-se "O Auto Sacramental do Baptismo", pequeno entremês, em um acto e em verso, publicado na "Revista Catequística".

Tendo chefiado o Agrupamento de Escuteiros Nº 329 do CNE (Vila Nova de Foz Côa), criou com os seus elementos um grupo de teatro de fantoches, que participou em festivais nacionais, e para o qual escreveu diversas peças de teatro. Recorde-se "A aldeia dos Regiolas", "A Branca de Neve e os sete anões" (em verso e com canções totalmente originais, musicadas pelo Pe. Francisco Ramilo Marques), “As espertezas do Diabo” e "O Sapateiro Pobre". Esta última, bem como "O Auto da Juventude", foi encenada pelo Grupo de Teatro da Casa do Povo de Escalhão, que a apresentou em diversas localidades da região. Durante esse período escreveu ainda "Lar, doce lar", sobre os problemas dos idosos isolados, já representada por um grupo de estudantes de enfermagem, no Porto, “O Auto da Água”, levado à cena no Adro da freguesia das Chãs, na festa de inauguração do abastecimento de água à localidade, e "O Céu roubado", que faz parte dos trabalhos que se mantêm inéditos.

 “O Auto de Natal” foi representado no Natal de 2001, no interior da Igreja Matriz de Vila Nova de Foz Côa, por um grupo de jovens fozcoenses dirigidos, numa interessante encenação, por Tânia Rodrigues.

Com o Pe. Francisco Ramilo Marques escreveu letras para canções, que foram incluídas em discos editados pela Imavox, em 1974, sob os títulos "Amor de Mãe" e "Amor de Pai", e outras sobre temas natalícios, todos eles interpretados por crianças eborenses. A primeira edição do disco "Amor de Mãe" foi oferecida, com os direitos de autor, à Obra de Promoção Social dos Ciganos.

Várias letras suas, como "Bolas de Sabão" e "Os Filhos do Vento", foram musicadas pelo medense Carlos Pedro, que as sabe interpretar de forma impagável e já, com parte delas, se apresentou publicamente.

Com fundamento no seu livro "Caminhada Imperfeita” e a sua peça “A Múmia”, foi admitido em 1973 como membro da (extinta) Sociedade Portuguesa de Escritores por proposta de Bernardo Santareno e Luís Forjaz Trigueiros, e fez parte da Sociedade Portuguesa de Autores.

Há referências suas no livro “Dicionário de Escritores do Distrito da Guarda”, de Pinharanda Gomes e “O Concelho da Meda”, de Jorge Lima Saraiva, bem como, na revista UNEARTE – da União dos Escritores e Artistas Transmontanos e Alto-durienses.

Foi co-fundador do quinzenário “Luz da Beira" (Meda 1954-1974), do mensário “Palavra”, (Reguengos de Monsaraz, a partir de 1966); co-fundador e director do boletim intermunicipal “Terras e Gentes” (mensário, 1986-1995) dos Municípios de Meda, São João da Pesqueira e Vila Nova de Foz Côa.

Pela sua ação social, foi distinguido com o primeiro “Diploma de Mérito” pela Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa.

Residiu na cidade de Vila Nova de Foz Côa desde 1971.

Faleceu, vitima  de COVID-19, no dia 22 de Janeiro de 2021 no Hospital Sousa Martins da Guarda.

 
Baseado num texto autobiográfico de Manuel Daniel (2012)



 Actividades que desempenhou


Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Foz Côa
  • 01-01-1975 a 31-12-1997 (23 anos) – Provedor.
  • 01-01-1998 – Presidente do Conselho Fiscal.

 

Assembleia Municipal de Vila Nova de Foz Côa
  • 1989 a 2001 – Presidente da Assembleia Municipal (12 anos em 3 mandatos sucessivos).

 

Bombeiros Voluntários de V. N. de Foz Côa
  • 1981 a 2000 – Presidente da Assembleia Geral dos Bombeiros Voluntários.

 

  • Dirigente juvenil da ACR (Acção Católica Rural)
  • 1951 a 1959 – Membro da Dir. dos B.V. de Meda
  • 1955 a 1959 – Fundador do Rancho das Vindimas da Meda
  • 1958 – Autor e fundador do Teatro Juvenil da ACR
  • Dirigente do Agrupamento Nacional de Escuteriros Nº 329

 Carreira profissional


  • 10-10-1946 – Praticante nos Registos Civil e Predial de Meda
  • 14-06-1955 – Proposto de Tesoureiro da Fazenda Pública de Meda
  • 01-07-1959 – Aspirante de Finanças na Rep. de Finanças de Pombal
  • 01-08-1961 – Aspirante de Finanças na Re. Fin. S. J. Pesqueira
  • 02-05-1964 – Tesoureiro de Fazenda Pública de Reg. de Monsaraz
  • 01-09-1968 – Tesoureiro da Faz. Pública de S. João da Pesqueira
  • 01-10-1971 – Tesoureiro da Faz. Pública de V. N. de Foz Côa
  • 01-02-1986 – Promovido à 1ª cl. e nomeado TFP da Guarda
  • 06-06-1988 – Chefe de Divisão das Tesourarias da Faz. Pública, na DG Tesouro
  • 01-06-1991 – Aposentado da função pública
  • 01-06-1993 – Inscrito como advogado, na Ordem dos Advogados, exercendo, até 2018, em Vila Nova de Foz Côa

 Louvores e diplomas


  • 25-07-2021 - Atribuição do nome Dr. Manuel Daniel ao Parque Municipal da Mêda.
  • Da Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa: Distinguido com o “Diploma de Mérito do Município” por 23 anos como Provedor da Misericórdia
  • Do Director-Geral do Tesouro, no final da sua carreira na função pública (publicado no “D. República”).





Última atualização: 18/11/2021
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